Friday, November 04, 2005

Entrevista


Entrevista com o Embaixador
João Gualberto Marques-Porto
Viva Brasil - Nos 12 meses entre o recém-concluído foro de negócios LatinAsiaBiz 2005 e a edição de 2006 do evento cingapuriano, quais os frutos que amadurecerão dessa iniciativa para as delegações empresariais brasileiras ao evento, e, em segundo lugar, quais aprimoramentos são desejáveis no foro em 2006 com auxílio do Setor de Promoção Comercial da Embaixada do Brasil em Cingapura?

Resposta - Antes de mais, lembro que o formato da LatinaAAsia Biz de 2005 representou um salto qualitativo relativamente ao de 2004. A "I. E. Singapore", promotora do evento, louvou-se em íntima interação com as embaixadas do Brasil, Chile, México, Peru e Panamá, além das representações honorárias da Colômbia e do Equador, em que os representantes latino-americanos procuramos corigir falhas de estruturação e execução do formato anterior. Essa colaboração permitiu um evento mais sólido, em que as apresentações macro-econômicas melhor se combinassem às experiências micro-econômicas de firmas latino-americanas e cingapurianas, como condutoras para contato empresarial direto ("networking").
O comércio bilateral do Brasil com Cingapura tem apresentado forte crescimento, nos dois sentidos, com vantagem para as exportações do Brasil. Entretanto, modernamente, não há que avaliar as relações econômicas entre dois países somente por meio da balança de mercadorias, mas à luz das transações correntes. Há, hoje, em especial, com o Brasil, mas também com outros de nossa região, interessante fluxo de capitais, especialmente investimentos diretos, como, por exemplo, a compra por estaleiros de Cingapura de estaleiros no Brasil, para atender à intima relação de negócios gerada pela PETROBRÄS, entidade nacional brasileira de petróleo. Plataformas de prospecção e exploração de petróleo em águas profundas vêm sendo construídas ou reformadas, em Cingapura e no Rio de Janeiro, de um lado, beneficiando a PETROBRÁS, com a eficiência e "know-how" cingapurianos em construção naval, e, de outro, os estaleiros de Cingapura no serviço à única firma de petróleo no mundo que domina o ciclo completo de exploração e produção de petróleo em águas marinhas profundas. Ambos estaleiros englabam projetos avaliados em 4,6 bilhões de dólares norte-americanos, ou cerca de 7,7 bilhões de dólares de Cingapura.
Não obstante, grandes empresas têm vantagens advindas de seu tamanho e pouco dependem de eventos promocionais. O que importa mais é ligar, em mutualidade de benefícios, as pequenas e médias empresas de ambos os lados das equações Brasil-Cingapura e América Latina-Cingapura, com vistas a parcerias que cubram desde mercadorias, passando pelos serviços, até os capitais. Foi-nos grato, aos membros da Embaixada em Cingapura, ter contado com abrangente representação brasileira, cobrindo desde enfoques analíticos de caráter sócio-econômico, até o mercado de de capitais. Para 2006, continuaremos a cooperar com a "I. E. Singapore", por evento ainda mais dinâmico e útil nesse processo de intimização, para a exploração concreta de parcerias de toda ordem e de grande impacto nas relações bilaterais.

Viva Brasil - A Agência de exportação APEX Brasil está sondando espaço para arrendar "showroom" permanente em Cingapura. Quais produtos de pequenas empresas brasileiras têm potencial de expor no "showroom", com chances de real penetração junto aos distribuidores em Cingapura?

Resposta - A APEX, congênere brasileira da "I. E. Singapore", trouxe grande contribuição à LatinAsia Biz de 2005 não apenas ao participar do evento, mas ao fazer, paralelamente, intensa prospecção, com vistas a a assegurar informação adequada ao comprador de Cingapura a respeito do produto brasileiro. Temos o melhor agro-negócio do mundo, com base territorial de cerca de 100 milhões de hectares agricultáveis ainda livres, sem tocar nas áreas ecologicamente protegíveis. Ao combinarmos eficiência de produção com alta qualidade de comercialização, pomos ao dispor de Cingapura, do Sudeste da Ásia e da Ásia, mais além, produtos de alta qualidade a preços competitivos. Ademais, no campo industrial, há grande variedade de produtos de interesse para essas regiões, que podem ser trazidos do Brasil, até como alternativa para os fornecedores tradicionais e com vantagens para o consumidor.
A APEX está avaliando as linhas de produtos para um primeiro ensaio, bem como parcerias para a criação de centro de exibição e distribuição, em que o comprador dependa de informações indiretas e possa ver o que lhe está sendo oferecido. É iniciativa inovadora, de impacto benéfico na eliminação do hiato geográfico entre Brasil e Cingapura, decorrente da distância física entre ambos.

Viva Brasil: De que modo o recém-inaugurado escritório em São Paulo da agência de promoção comercial "International Enterprise Singapore", primeira representação oficial de Cingapura na América do Sul, aliviará os gargalos que obstaculizavam os contatos entre investidores cingapurianos e empreendimentos brasileiros?

Resposta - A abertura do escritório da "I. E. Singapore" em São Paulo é o outro lado da moeda que trouxe a APEX a Cingapura. O que buscamos é a rápida superação daquele hiato a que acima me referi. Com a laboriosidade cingapuriana, sob a chefia de Ter Yeow Ming, Representante para a América Latina, não há dúvida de que os negócios "explodirão", bilateralmente. Segundo Lee Yi Shian, Executivo-Chefe da "I. E. Singapore", na inauguração do escritório, "...o Brasil, o maior país da América Latina, é também um mercado em si mesmo, com 180 milhões de habitantes e PIB de US$ 605 bilhões " e "enquanto atentos ao crescimento dos mercados da Índia e da China, não podemos ignorar usina de força ("powerhouse") emergente como o Brasil".
A inauguração foi realizada pelo Vice-Primeiro-Ministro de Cingapura, S. Jayakumar, numa clara demonstração da dimensão política da aproximação bilateral, no que se sublinha, como pano de fundo, o cuidadoso trabalho diplomático efetuado ao longo dos anos, de molde a abrir canais de comunicação e entendimentos em todos os níveis e coroando-os com diálogo desimpedido, no mais alto nível dos respectivos governos nacionais.

Viva Brasil: Quais as perspectivas de novos acordos mútuos Cingapura-Brasil nas esferas de vistos consulares, acordo aéreo, tributação, escritório conjunto Mercosul em Cingapura, cooperação em biotecnologia, transferência de "know-how" em eletrênica e tecnologias em logística – para o interior de SP e a Zona Franca de Manaus-AM – e em construção naval para o litoral fluminense como verficado nos estaleiros no estado do RJ?

Resposta - A área consular é nevrálgica, para facilitar o turismo e o contato direto entre empresários. As negociações estão avançadas e, cedo, poderemos anunciar um acordo na matéria. Acordo aéreo é matéria complexa; já existe um um, mas necessita atualização. A cooperação em biotecnolgia é altamente promissora. Com, de um lado, a experiência cingapuriana de cooperação público-privada e, de outro, a pesquisa acadêmica de que vem sendo feita por centros brasileiros e a riqueza ímpar do universo biológio brasileiro, o campo de apresenta ilimitado. Na eletrônica, Cingapura também sobressai como centro de excelência, em que concentrou esforços de desenvolvimento, já que é indústria que exige pouco espaço. O Brasil tem espaço e vem dando saltos em pesquisa que merecem ser estimulados. As parceriais apontam para empredimentos conjuntos cingapuriano-brasileiros de grande benefício bilateral. Quanto a zonas francas, creio que elas estão em fase de progressiva desmontagem. Não são mais necessárias e até introduzem algumas distorções econômicas. Trata-se, hoje, de relações diretas, economia a economia, na criação de sinergias que independam de zonas especiais alfandegadas. Quanto aos estaleiros, creio que a resposta à segunda pergunta, mais acima, é eloquente.

Viva Brasil: O Brasil fincou frango congelado, polpa de suco de laranja, café solúvel, aço em diversos formatos, couros, granitos decorativos, peças automotivas, equipamento odontológico, e mais em Cingapura. Todavia, livrarias e "coffee shops" são igualmente embalados pelo balanço da Bossa Nova e MPB. Lograremos vender o produto cultural de exportação, a exemplo do Festival de Cinema Brasileiro a ser patrocinado pela Petrobras em Cingapura em outubro, para além do círculo dos cingapurianos "latinófilos"?

Resposta - O produto cultural é essencial. Quando se compra um sanduíche de cadeia alimentar norte-americana, se está comprando o filme de hollywood, o avião militar potente, o dinheiro dos fundos de pensão, enfim, uma multitude encadeada, que nasce de uma percpeção de imagem.
Por isso, divulgação da cultura brasileira é tão importante, pois cria familiaridade com nossas realidades e contra-arresta enfoques mal-fundados, senão maldosos, frequentes nos meios de divulgação de massa, para trazer à tona elementos de juízo desconhecidos do povo local.
O cinema brasileiro vem do princípio do século XX, com escassez de meios, porém obras reconhecidamente
de alto valor estético e artístico. A despeito da predominância dos cinemas norte-americano e europeu, beneficiados por abundância de fontes financeiras, os anos 50 e 60 se caracterizaram por crescente número de produções brasileiras, muitas delas internacionalmente premiadas, especialmente na Europa, de onde tiramos alguns de nossos traços culturais e intelectuais básicos, num agregado multiétnico e multicultural autêntico, em que os grupos humanos realmente se misturam, não apenas coexistem. Depois da longa fase de baixa produção, durante os governos militares e sua censura (1964-1984), o cinema brasileiro, ressurgiu nos anos 90. Nossas produções são destituídas de luxo, porém com cenarização de alta qualidade, para enfocar menos os ambientes, mais os personagens e, portanto, a mensagem desejada pelo diretor. Temos, hoje, como na origem, um "cinema de diretor", que, sobre entreter, possui substância. Estamos prontos a satisfazer, com filmes e outros produtos culturas, como livros, a fome dos "latinófilos"e "brasilófilos" cingapurianos.

Viva Brasil: O que faz falta nas 5 churrascarias operantes em Cingapura?

Resposta - A rigor, o esforço é válido de havê-las aberto. Entretanto, falta a carne brasileira, ponto fundamental. Segundamente, acho que o cingapuriano precisa flexibilizar-se um pouco mais e não exigir que as cozinhas estrangeiras lhes façam concessões de gosto e estilo que as deturpe. Infelizmente, acho que as churrascarias brasileiras aqui ainda deixam a desejar, mas são uma aproximação corajosa e que merece estímulo.

Viva Brasil: Em torno de qual ponto focal a comunidade brasileira em Cingapura pode começar a se rearticular e retomar o pulsar vibrante que a congregava?

Resposta - Os brasileiros somos comunicativos e expansivos, com grande capacidade de expressão. Falta-nos, porém, a coesão que se encontra em grupos étnicos como, por exemplo, o chinês. Não me parece desejável que o copiemos, pois somos estruturalmente diferentes, e na diferença está a riqueza da humandidade. Acho, entretanto, que a comunidade brasileira no exterior necessita desenvolver um pouco mais de sentido coletivo, na busca consciente de estimular e divulgar nossa riqueza sócio-cultural. Já se notam aperfeiçoamentos também nesse campo, inclusive o surgimento de um sentido masi anbrangente de brasilidade, advindo da admiração inevitável da obra conjunta que estamos realizando como nação, no Brasil.

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