Friday, November 04, 2005

II Festival de Cinema Brasileiro


Pelo segundo ano consecutivo, a PETROBRAS, a companhia brasileira de petróleo, está patrocinando o Festival de Cinema Brasileiro.

A edição deste ano apresentará uma ampla gama de obras brasileiros – desde filmes de ficção, documentários e curta-metragens. O festival tem o prazer de contar, este ano, com a presença do cineasta brasileiro Cao Guimarães, que estará apresentando o documentário “Alma do Osso” e o seu curta-metragem, “Da Janela do meu Quarto”.

O Festival de Cinema Brasileiro está sendo organizado pela Sra. Eliana de la Fontaine, em conjunto com a Singapore Film Society e Media Development Authority, de Cingapura, tendo o hotel The Regent Singapore como alojamento oficial do evento.

Não perca mais esse evento !!!
Entrevista de Cao Guimaraes para VIVA BRASIL MAGAZINE:
V.B -Você ainda pratica a fotografia como um meio paralelo para a sua expressão artística, ou já a mesclou com a produção de filmes?

Sim, ainda fotografo. Sempre trago comigo uma pequena câmera digital (foto e vídeo) para coletar elementos da realidade (baseado num rascunho ou proposta ou não ???). Posso dizer que criar imagens é a minha principal forma de expressão ( imagem imóvel e imagen móvel). A realidade me dá inúmeros elementos interessantes todo o tempo, só tenho que escolher qual a ferramenta usar, ou a melhor forma de me expressar, se através da fotografia ou do filme, ou qualquer outra forma.

V.B- Existe uma diferença de tratamento entre a fotografia e o filme?

Claro, primeiro pelo próprio processo. Enquanto ao fazer um filme estamos trabalhando em grupo, ou seja dividindo tarefas, percepções, reflexões, o fazer fotográfico é mais solitário (como dos escritores). Esses processos naturalmente se refletirão no resultado dos trabalhos.
Outra distinção fundamental é a relação com o tempo. Como disse o cineasta Andrei Tarkowsky, fazer um filme é como esculpir o tempo, ou seja, o tempo no cinema é matéria-prima fundamental, algo quase matérico, táctil, como uma massa de pão que esticamos, enrolamos, fragmentamos, apertamos, alargamos, até adquirir sua melhor forma. Na fotografia esse tempo já está dado no ato mesmo do disparo. Ele é uma coisa única, instantânea e inviolável. O ato fotográfico é como um disparo no infinito do tempo. Estas características díspares com relação ao tempo fazem com que os artistas busquem métodos diferentes de abordagem e de aproximação com relação a seu objeto.

V.B - Nos últimos cinco anos você tem sido freqüentemente convidado a festivais internacionais de cinema na Europa; os seus filmes são recebidos de forma diferente de, como por exemplo, na Bienal em São Paulo?

As exposições de artes plásticas estão se abrindo cada vez mais para manifestações cinematográficas, geralmente filmes que se posicionam meio à margem do circuito cinematográfico. Com o advento de câmeras digitais de fácil manuseio, artistas plásticos estão cada vez mais experimentando o fazer cinematográfico. Com isso geram novas questões, novas proposições e novas formas para essa arte ainda bastante nova. Tanto filmes de artistas têm participado de festivais de cinema, quanto cineastas têm participado de exposições de arte. E tudo isso é bastante salutar! É claro que cada meio tem suas características específicas, seus vícios do fazer e do ver. Muitos dos meus trabalhos percorreram esta trilha dupla, foram expostos em museus e galerias e exibidos em festivais (até mesmo festivais tradicionais como Cannes ou Locarno).
Sinto que cada vez mais esses dois universos se aproximam num movimento dialético, a meu ver, bastante saudável para ambas as partes.

V.B - Quais as suas expectativas quanto à sua visita a Cingapura?

É a primeira vez que conhecerei a Ásia, um lugar quase místico para nós ocidentais. Tenho uma expectativa imensa, no mínimo, pelo simples fato de estar fisicamente, pela primeira vez, no lado oposto dessa esfera chamada terra. Ou seja, como num sistema àagnético de polos opostos, cada micro evento terá um impacto em minha pessoa, bastante intenso e curioso, passando pela atração e repulsão. Gerando um movimento natural consequente de possíveis experiências a serem trocadas. Gosto também de não me informar muito sobre os locais para onde estou indo e que não conheço. Tenho a tendência a deixar um pouco ao sabor do acaso os possíveis acontecimentos que se sucederão. Chegar sem saber nada a respeito de um lugar é como estar absolutamente aberto para a realidade em si, o primeiro impacto, sem pré-conhecimentos que geram preconceitos e embotam o fluxo natural da percepção.
Críticos dizem que artistas de países “jovens”, sem um forte “background” de instituições na área de cultura e educação, como na Europa, tendem a usar “mídias rápidas” como a fotografia e o filme para entrar direto no mercado global de arte.
V.B - Você acha que isso se aplica a você e, quem sabe, aos seus colegas do sudeste asiático?

Não creio. Primeiro, pelo simples fato dos artistas em países como o Brasil não terem recursos suficientes e acesso fácil à alta tecnologia (creio não ser o caso da SEA). Segundo, por um aspecto geográfico (países tropicais) que naturalmente proporciona um ambiente (e uma forma de vida) propício para o desenvolvimento de artes menos mentais e mais sensoriais como a música, a dança e uma arte plástica mais orgânica e intuitiva. Claro que o cinema e a literatura no Brasil têm momentos primorosos, mas nada comparável com, por exemplo, nossa música. E finalmente eu não acho que fotografia e filmes sejam “mídias rápidas”. Qualquer meio de expressão artística exige um longo processo de maturação e concepção para se justificar como tal. Os meios utilizados (fotografia, filme, escultura, instalação , etc.) não são um fim em si mesmo. Tudo que quer se expressar já guarda, em si, a forma mais apropriada para vir ao mundo. Não digo “vou fazer um filme” e então começo a pensar em alguma coisa. Geralmente penso primeiro em alguma coisa para depois escolher a forma mais apropriada de expressá-la”.

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